terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

EXPERIÊNCIA FISIOTERAPEUTICA COM BORDERLINE

...e quando eu menos esperava, chorei de joelhos.

Muito mais freqüente em mulheres do que em homens, o Borderline é um dos mais sérios transtornos da personalidade. No limite entre um estado normal e um quase psicótico, assim como às instabilidades de humor, os boderlines são pessoas que em certo instante passam como normais, mas a própria condição postural demonstra importantes desequilíbrios psicofisiológicos.

Em março de 2008, vivi a experiência de um paciente com este diagnóstico. Hipocondríaco ao máximo, e de alto poder aquisitivo, sua queixa inicial era a de não poder se movimentar direito em decorrência da obesidade e do sedentarismo. Logo me prontifiquei não só como fisioterapeuta e terapeuta, mas como um amigo.
Foi aí que errei, e feio.
Nunca poderia ser amigo de um paciente nessas condições. Deveria ter mantido uma distância que me protegesse contra os "ataques". O Boderline ou transtorno da personalidade limítrofe não é muito freqüente. Nos USA se considera 2% da população, (mas cuidado, geralmente as estatísticas lá são exageradas).
Mas não vou descrever aqui todos os sintomas, evolução, riscos, causas prováveis e todo o prognóstico. Se quiser aprofundar no wikipédia tem uma boa leitura.
Aqui só vou expor que eu sabia que havia perdido algum poder terapêutico sobre aquele paciente. Não sabia qual. Minha aproximação com ele ocorreu por saber que o melhor para ele era socializar-se e melhorar o relacionamento com seus familiares. Propuz então a compra de um equipamento que faria toda a diferença uma vez que o paciente negava sair para caminhar ou exercitar-se na academia. Nesta hora, subiu a cabeça quando ele percebeu que estava melhorando. 
Incrível como ele conduziu a discussão de modo a encontrar em mim uma fraqueza que eu mesmo não houvera detectado em momentos de meditação.


E quando eu menos esperava, estava de joelhos, chorando e implorando para que ele parasse com aquele ataque que ultrapassava o plano físico das palavras e atingira meu corpo emocional e parte do mental.
A sensação foi de derretimento. Não sabia se vomitava ou desmaiava mas algo me dizia para levantar e ir embora.
Triste como todos nós conduzimos nossas vidas nas cidades. Escondemos quem somos para poder ter. O ser fica completamente aniquilado. E naquele momento senti o meu ser aniquilado pela minha condução fisioterapêutica. Eu já não possuíra nenhuma boa influência e já não servira como facilitador de um processo de autocura. 
Eu acreditei no tratamento pela amizade. E fiquei sem ambas. Não é uma terapêutica simples. O que acontece na vida real acontece dentro do consultório: instabilidade emocional, alternância entre amor e ódio, idealização e desapontamento com o terapeuta, sedução, impulsividade.
Isso quer dizer o seguinte: o tratamento exige paciência, persistência, disciplina e muito boa vontade.

Pacientes gratos hoje podem se mostrar ingratos amanhã. Terapeutas que hoje são vistos como atenciosos e dedicados podem ser criticados e vistos como monstros amanhã. Aqui nasceu em mim um amadurecimento sutil que se transformou em delicadeza e mais gentileza. Graças a minha personalidade sadia. Conduzo minha personalidade com minha individualidade. E esta com minha alma. Então não há como haver mágoa, culpa, ódio e sim um lamento por não ter sido maduro para conduzir o processo de autocura do paciente.

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